
Por Norma Leite Aquilino
Seis anos...Seu filho está crescendo. Sente isso nos pequenos detalhes: ao tomar banho de forma mais independente, na escolha e na troca de roupas, ao preparar sozinho seu pão pela manhã. Sua linguagem está, a cada dia, mais elaborada...garoto bem informado, fica atento à TV, às músicas de sucesso, às notícias veiculadas a todo instante. Rápido no pensamento, parece não hesitar ao lhe responder qualquer questão. As crianças de hoje parecem tão mudadas! Tão diferentes e rápidas para tudo! A todo instante você se surpreende, como se essa geração já nascesse com uma série de questões resolvidas, já pré-determinadas.
Talvez por isso, muitos pais, ao se depararem com registros escritos por seus filhos, por volta dos seis, sete anos anos, se surpreendam e, muitas vezes, se assustem. Alguns, por acharem que essas crianças, tão repletas de informação, desde pequenas, devessem escrever melhor...outros, porque comparam sua própria escrita, quando criança, à escrita de seus filhos hoje: "Ah... no meu tempo, escrevia-se com menos erros.."
Pois bem. Justamente porque o mundo mudou e os educadores, através de pesquisas, buscaram compreender como as crianças pensam, o olhar sobre a alfabetização também foi alterado.
Hoje é sabido que se apropriar da linguagem escrita não é tarefa simples. Ela envolve, por parte de quem o faz, a reconstrução de um sistema construído pelo Homem através de séculos. No caso de seu filho, essa apropriação tem um significado muito mais amplo do que a simples cópia, do que o traçado correto das letras, do que o mecânico decodificar de sílabas. Para ele, aprender a escrever significa ousar, correr riscos, expor-se. Por isso, colocar a sua escrita no papel, seja ela qual for, envolve crença em si próprio, autoconfiança. Escrever histórias e casos é também tomar consciência de que essa escrita tem uma função: tornar-se objeto de leitura para outras pessoas.
É diante desse quadro que os adultos devem se situar. Qual é o seu papel nesse processo tão rico? De que maneira ajudar essa criança a encontrar caminhos? Nesse momento tão especial, início da aprendizagem, a maior contribuição do adulto, pai ou professor, traduz-se no respeito ao que a criança produz e crença em sua capacidade de crescimento, ainda que seus primeiros registros estejam distantes dos padrões esperados. Para tal é necessário que você se despoje daquele senso crítico tão apurado que ceifa a autoconfiança; é imprescindível que a seu filho sejam proporcionados tempo e espaço para a escrita, que você escute dele o que acha daquilo que escreve e por que escreve daquela forma. É necessário dar-lhe tempo. É necessário dar-lhe espaço. Mas, acima de tudo, é fundamental transmitir, a todo instante, e através de caminhos diversos, a crença em seu potencial.
Isso não significa deixar de lhe dar informações sobre a escrita. Não. Como você bem sabe, seu filho é um menino esperto, sabe que seus registros são diferentes dos do adulto. E lhe faz perguntas. Responda, responda sempre. Mas lembre-se: há uma diferença entre lhe dar a informação, no momento solicitado, e esperar que ele compreenda e transfira para todas as situações de escrita, o que você lhe explicou. Lembre-se, também, de que, ao passar da oralidade para o papel, ele tem uma série de questões em que pensar: lembrar-se do traçado da letra, da disposição no papel, das questões ortográficas, da pontuação...e, junto com tudo isso, ainda precisa lembrar-se de sua história, de seus personagens, do enredo...Acha possível que dê conta de tudo?
Ah...como seria bom se você, pai ou mãe, parasse um pouco de enxergar "o quanto falta" , para perceber e se deliciar com "o quanto seu filho já conseguiu"! Veria coisas incríveis!
Escrever é tarefa que exige calma, persistência, gosto. Escrever é também tarefa que conta com o erro. Só se aprende a fazer, fazendo e...errando...para, posteriormente, pensar em alterações.É essencial mostrar a seu filho que, mais importante do que escrever tudo correto, num primeiro momento, é soltar a imaginação, voar com os pensamentos, criar uma história com gosto e paixão. A correção vem depois, paulatinamente.
Quando família e escola mostram às crianças que o erro faz parte do processo e que dele não se deve fugir; quando profissionais e pais abraçam-nas com seus acertos e desacertos (que bom que eles existem!), transformam-se em seus leitores reais, seus interlocutores por inteiro. Conseguindo isso, permitem que elas cresçam de forma mais sadia, livre, apaixonada e, principalmente, mais conscientes de que há uma longa estrada a ser percorrida com a ajuda de quem nela confia e a quem sempre poderá recorrer. Lembre-se, nesse caminho desafiante do conhecimento, professores e pais não são jamais os censores, mas os grandes aliados que, com sabedoria e lucidez, abrem trilhas, iluminam caminhos, redirecionam e, acima de tudo, permitem que as crianças aprendam a amar o trabalho intelectual.
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