segunda-feira, dezembro 04, 2006

Escola pública ou particular?

A difícil decisão quando chega a crise...

O dinheiro está curto, o desemprego ronda e o padrão econômico das famílias tem sido profundamente alterado nos últimos tempos. No momento em que cortes de despesas se fazem necessários, os gastos com educação são seriamente avaliados.

Por Norma Leite Aquilino

A questão não é fácil. O sonho dos pais sempre é o de proporcionar a seus filhos o que de melhor há. No que se refere à educação, esse é um ponto indiscutível. A preocupação em oferecer ensino de qualidade é busca permanente e, muitas vezes, os sacrifícios são enormes para que o padrão seja mantido. Isso, porém, nem sempre é possível, uma vez que se vive num país em que qualidade de ensino está vinculada à escola particular. Infelizmente.
Quando os pais se vêem diante da inevitável transferência para o ensino público, medos e ansiedades afloram. Um misto de culpa e de preocupação com a realidade lida em jornais e ouvida em noticiários: violência, drogas, greves, professores mal preparados, enfim, assuntos freqüentemente associados à escola pública.

Preocupação generalizada

Hoje a grande discussão sobre qualidade de ensino, preparação dos docentes, entre outras questões, está em todos os lugares. Não se restringe à escola estadual ou municipal. Há inúmeras histórias na rede particular de ensino que fariam qualquer pai e mãe ficarem horrorizados. Nem todas as escolas pagas são ilhas de excelência, nem garantem que seus alunos fiquem distantes da dura realidade veiculada nos jornais e TV, saiba disso. Muitas possuem um custo altíssimo por belas instalações e piscinas aquecidas. Mas deixam a desejar no que se refere à formação de alunos e professores. Ensino pago necessariamente não significa ensino de qualidade.

Por isso, se a família vive o momento em que precisa rever seus padrões, é importante que avalie com racionalidade os reais benefícios que tem obtido da escola particular. A criança interessa-se pelo aprendizado? Tem conquistado espírito crítico, discernimento, autonomia? A escola dá conta de suas dificuldades? Acolhe a família como parceira? Refletir sobre esses aspectos é fazer com que a escolha seja feita em bases mais sólidas, com dados reais e pode trazer menos sofrimento na hora da decisão.

Um custo que vai além da mensalidade

Um outro fator a ser levado em conta refere-se ao círculo de amizades de seu filho. Mantê-lo numa escola particular não significa somente pagar as mensalidades. Há um padrão econômico esperado por todos e que pode trazer sofrimento à criança se não for mantido. Ele se reflete nas festinhas, nos tênis e nas roupas, no material escolar, nas viagens... Em muitos casos, há todo um contexto que, certamente, entrará em choque com o momento vivido pela família. Essas são questões difíceis e que, no dia-a-dia, refletem-se não só no bolso, mas podem confundir seu filho e criar conflitos em casa.

Colocando os pés nos chão...

Optar pela escola pública como saída para um momento difícil pode não ser tão terrível assim. Não, não se trata de dizer que é uma escolha fácil. Ela envolve alguns procedimentos importantes para que você esteja mais tranqüila e possa fazer essa passagem com maior segurança.

§ Converse abertamente com seu filho sobre a necessidade da mudança se essa for a saída encontrada. Não se inquiete com uma reação, a princípio, negativa. Ela pode não estar ligada necessariamente à escola pública. As crianças normalmente resistem, não desejam separar-se dos amigos, têm receio do novo...

§ Converse com pessoas de seu bairro que já tenham tido experiências na rede pública. Você pode ter dicas preciosas e se surpreender com algumas iniciativas...

§ Visite o maior número de escolas, estaduais e municipais, que puder.

§ Em suas visitas, exija o encontro com coordenadores. Peça-lhes informações sobre número de alunos por classe, reciclagem dos professores, como é feito o atendimento a pais e alunos com dificuldades escolares. Não tenha receio de ser chata. Ninguém está lhe dando nada de graça. Todos pagamos pela educação que é obrigação do Estado e direito de qualquer cidadão.

§ Informe-se sobre a existência de Associação de Pais e Mestres e sua atuação – sua presença pode fazer uma enorme diferença na qualidade de ensino.

§ Procure não valorizar tanto a aparência física da escola. Lembre-se, você está numa instituição pública, ainda carente de recursos. Isso não significa, necessariamente, que seus profissionais não sejam capacitados. O que está em jogo é a formação de seu filho. Inúmeras vezes a carência é substituída por criatividade e ousadia.

O papel de cada um

Para os pais, viver essa nova realidade é assumir uma nova condição – a de ser agente transformador. E sabe por quê? Porque a escola pública que aí está precisa exatamente de pessoas como você, que já viveram outra realidade e que sabem o que desejam para seus filhos. São essas as famílias que têm voz, argumentos e que podem dar uma contribuição efetiva para as mudanças. Optar por esse tipo de ensino significa mais compromisso, mais disponibilidade para acompanhar o processo e buscar, em parceria, caminhos.

Para as crianças, essa experiência pode significar olhar a realidade mais de perto, valorizar o que se tem em casa, aprender a lidar com a diversidade e com a tolerância... questões tão difíceis quando se vive num mundo voltado para as aparências e para o consumo. Não é tarefa fácil, mas você pode retirar desse novo momento, algumas lições preciosas. Lembre-se de que o lado positivo de qualquer crise é a descoberta de caminhos e pode ser uma oportunidade de fortalecimento.

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