sexta-feira, agosto 25, 2006

A arte de ser avó


Por Rachel de Queiroz

Quarenta anos, quarenta e cinco. Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as sua compensações - todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.
Não de amores nem de paixão; a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas, que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.

E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito sobre ele, ou pelo menos o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo ou decepção, se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
Aliás, desconfio muito de que netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. Se o Doutor Fausto fosse avô, trocaria calmamente dez Margaridas por um neto...

No entanto! Nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe do neto. Não importa que ela hipocritamente, ensine a criança a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha" e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante nos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe banho, veste-o, embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.

Já a avó não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca". Deixa lambuzar de pirulito. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso dos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café, mexer na louça, fazer trem com as cadeiras na sala, destruir revistas, derramar água no gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser - e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parede com lápis dizendo que foi sem querer - e ser acreditado!
Fazer má-criação aos gritos e em vez de apanhar ir para os braços do avô, e lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna...

Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós com seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto!

E quando você vai embalar o neto e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz "Vó", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.
E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe castiga, e ele olha para você, sabendo que, se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade.

Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menino - involuntariamente! - bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beicinho pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque "ninguém" se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Exércitos ou guerreiros?


O mundo não precisa de exércitos.
O mundo necessita de guerreiros.
Soldados cumprem ordens de chefes,
Guerreiros seguem o coração!
Mário Pirata

terça-feira, agosto 22, 2006

Em busca da vida real


Por Norma Leite Aquilino


Luzes artificiais dos shoppings, vida em condomínios fechados, pais que se transformaram em eternos motoristas: essa parece ser a realidade de boa parcela dos jovens.O que fazer?


O mundo moderno, com suas transformações, busca trazer mais conforto, menos desperdício de tempo, maior praticidade. Hum... pois alguma coisa está errada, algo não caminha como o desejado! Porque essa história não parece estar acontecendo de forma tão prática, nem tão suave assim para as famílias. Se não vejamos, responda rapidamente a algumas perguntas: você anda louca, pelo trânsito, levando e buscando as crianças na escola e nos cursos extras? Vive preocupada quando seu filho lhe pede para ir a pé a algum lugar? Ele conhece menos a luz do sol do que as luzes artificiais dos shoppings?

Como falar dos benefícios da modernidade se como pais, estamos todos, a cada dia, mais dependentes dos filhos e vice-versa? Esse é assunto longo, pois remete a uma série de questões, tais como: segurança, desejo de proporcionar o melhor, a vida acelerada da família, enfim, coisas do mundo atual.
Jamais as crianças e jovens tiveram suas agendas tão lotadas e nunca pai e mãe precisaram correr tanto para dar conta de tudo!

Refletindo um pouco sobre o passado

É necessário que nos lembremos um pouco de alguns hábitos que faziam parte, no passado, da vida de crianças e adolescentes. Pense bem, poucos pais tinham automóveis disponíveis para levar filhos à escola e mesmo a cursos extras, quando existiam. Era um outro perfil de classe média. Naquela época, desde muito cedo, as crianças e jovens adolescentes, eram impelidos a caminhar com suas próprias pernas. Conheciam melhor as ruas próximas à sua casa e as de bairros vizinhos. Viviam experiências, em seu cotidiano, que lhes proporcionavam situações da realidade: a vida da rua. Esse fato lhes permitia lidar mais seguramente e mais cedo com inúmeros episódios que propiciavam a necessidade de tomada de decisões, experiência fundamental para o crescimento.

Os nossos medos


Sim, os nossos medos... Ao relembrar esse passado, inúmeros pais refletem e pensam: “Mas o mundo mudou. Como deixar que meu filho faça as mesmas coisas tão cedo? A violência está na rua, em nossa esquina!” É fato. Estão cobertos de razão ao falar da alteração visível nas duas últimas décadas. Há cuidados que não podem ser desprezados no mundo em que os filhos estão inseridos. Mas aqui cabe uma pergunta: será que as famílias, imbuídas de seus medos e ansiedades, não vivem o extremo oposto? Não haverá, atualmente, uma proteção exacerbada quando se procura cercar os jovens, transformando seu universo em algo artificial e distante do mundo cotidiano? Não estaremos prolongando esse período de adolescência além da conta? Sim, todos sabem que sim. Nunca estiveram tão dependentes para as coisas básicas e, curiosamente, tão soltos para os prazeres da vida moderna: festas, bebidas, cigarros, cinema, sexo...

Direitos e deveres

Importante que, desde cedo, as crianças percebam que a cada direito corresponde um dever. E para que haja realmente entendimento dessa máxima, nada como delegar tarefas – pequenas e simples tarefas, distribuídas em doses homeopáticas, mas que lhes mostrem que nada nos é dado fácil. Há algumas, iniciadas aos 7, 8 anos, que podem parecer banais, mas seu alcance é poderoso: comprar pães na padaria, levar o cachorro para passear, buscar jornais ou mesmo providenciar algo que esteja faltando na mercearia ou supermercado mais próximo.

Isso causa aflição? Preocupa os pais? Sim, sem dúvida alguma. Precisarão dar conselhos sobre os cuidados a serem tomados: ser vigilantes em relação ao que acontece a seu redor, andar com pertences que não sejam de valor, cuidar do troco com atenção, enfim... uma série de atitudes que presumem cautela e responsabilidade. Mas representam os primeiros passos de uma independência que precisa ser desenvolvida ao longo dos anos. É o início para que, mais tarde, comecem a realizar percursos mais longos, aprendam a pegar um ônibus, a caminhar por ruas mais movimentadas do bairro, entre outras tantas iniciativas que denotam autonomia.

Aliviar a agenda dos pais

Isso mesmo. Se você se dispuser a semear, gradativamente, um pouco desse espírito autônomo nas crianças, sem dúvida alguma isso reverterá em benefícios também para você, quando forem jovens: evitará ou minimizará a loucura de, constantemente, estar correndo de um lado para o outro em função dos inúmeros e, muitas vezes, insanos compromissos que assumem.

Adolescentes que caminham com as próprias pernas repensam uma série de atividades e horários ao perceberem que são responsáveis por si mesmos. Sabem de seus limites e dos limites da família, o que faz toda a diferença ao planejar suas ações. Mais do que isso: ao sentir, na pele, o custo de seus anseios e decisões, passam a viver com os pés no chão e a valorizar e respeitar o tempo dos pais.

A idade correta para esses pequenos atos de liberdade vigiada dependerá muito do perfil da criança ou jovem e da sua sensibilidade para perceber a hora certa para cada coisa. Cada filho tem suas peculiaridades e esse fato é fundamental na decisão.

A coragem para ousar

Só é possível confiarmos na capacidade dos filhos se nos propusermos a soltá-los em doses homeopáticas e, com isso, ensiná-los a agir com discernimento. Imprevistos ocorrerão? Sim, não duvide. Perderão dinheiro, gastarão em bobagens, inicialmente, mas se aprende a fazer fazendo. Sustos também fazem parte? Fazem. Correm riscos? Correm. Mas pense um pouquinho: os riscos hoje estão em toda a parte: no pátio da escola, na porta da sua casa, na saída do cinema do shopping... e você não estará lá para cuidar de tudo. Ilusão achar que os filhos crescem em segurança simplesmente porque são monitorados pelos pais o tempo todo. Reflita, também, sobre o sentimento de satisfação que se proporciona aos pequenos quando se deixa que percebam que são capazes, que podem dividir pequenas tarefas, que a família neles confia.

Se ainda isso não bastar, lembre-se de que o mundo de hoje pede aos jovens, cada vez mais cedo, espírito crítico, independência e sabedoria para lidar com os imprevistos. Exige que saibam ler a realidade que os cerca e que sejam responsáveis por suas ações. Isso não se alcança de uma hora para outra, muito menos numa redoma, distante do mundo real. Conquista-se em contato permanente com o sol, vento no rosto, garoa fina e pessoas que transitam pelas ruas. Nesse novo ano que começa, retire um pouco suas protetoras asas e dê-lhes a oportunidade de ousar e experimentar a vida que corre lá fora! Esses pequenos vôos representarão o início de jornadas mais reais, verdadeiras e, principalmente, mais carregadas de significado para todos.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Nada é impossível Mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural,
nada deve parecer impossível de mudar.
Bertold Brecht

quarta-feira, agosto 16, 2006

Voto, do exercício à consciência


Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Mãos dadas
Sentimento do Mundo
Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, agosto 11, 2006

terça-feira, agosto 08, 2006

Desbravando mares ou quando, mais do que nunca, é preciso ser pai

Por Norma Leite Aquilino

Quero o mar alto, o mar grande
Por favor, não me mande de volta, mais não
Não quero cais, outro porto,
Não mais o mar morto da minha ilusão,
Prefiro ir à deriva,
Me deixe que eu siga em qualquer direção
Eu sou de um rio marinho
O mar é meu ninho, meu leito e meu chão...
Paulinho da Viola


A imagem fala por si só. O mar que é mistério, o desconhecido que assusta e fascina. As águas salgadas, que significam o caminho da conquista (Oh, mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal...já disse o poeta em tempos idos...).
Pois falar de pai é também falar de um oceano, ora em calmaria, ora em turbulência, com ondas imensas...Nos tempos de hoje, então...Ah...esse mar nunca esteve tão revolto...esse pai inquieto. Esse mar jamais possuiu vagas tão enormes...esse pai a buscar caminhos, a se debater ferozmente.

Sua, no passado, foi sempre a tarefa de provedor do lar, mas parece que a briga, embora suada, não exigia os implacáveis esforços de hoje. Sim, porque a luta do agora não significa somente abrir frentes no mercado de trabalho, estudar. O embate hoje, sabe você, significa encontrar espaço em sua casa...buscar o lugar que ocupa dentro de sua família. Respostas para o seu papel. Sabe do que se fala aqui, não sabe? Sabe, sim...

Sabe o que é chegar em casa, cansado e...não encontrar sua esposa (ela está viajando, a negócios). Sente, na pele, o que é precisar de uma camisa,não está passada (a reunião vai até tarde, avisa ela ao telefone). Pensa consigo mesmo:tudo bem, enquanto são só roupas, a comida, a casa...Mas e as crianças???? Onde está essa mulher? Ela tem deveres, uma família.Meio de campo embolado.Você tenta preencher as lacunas. Troca fraldas, ajuda no dever de casa (como mesmo ensinar essa tal de matemática hoje em dia? mas essa menina está escrevendo errado...), esquenta a comida. Essa mulher não chega? Do seu jeito, procura colocá-los na cama, olha o relógio. A cidade está tão perigosa... nem isso ela compreende! Eu, aqui, com os garotos e simplesmente um breve aviso ao telefone!

Difícil localizar a contrariedade. O panorama não é simples, mesmo. São momentos em que o racional mistura-se com a emoção. Sabe da importância dessa mãe no mercado de trabalho, seja por necessidade financeira, seja por realização pessoal e profissional. Você lhe deu apoio, disse que lhe daria a retaguarda mas, não consegue esconder sua inquietação quando ela chega e você a recebe com alguma dessas frases: “As crianças perguntaram por você...” ou “Precisei preparar o leite e está faltando açúcar..” ou ainda, de forma mais contundente, “Casou-se com aquele escritório?”

Os papéis parecem se misturar. Houve um tempo em que o pai sabia exatamente seu lugar, suas obrigações, deveres e direitos numa sociedade estruturada de uma outra maneira. Se à mãe cabia acolher, proteger sua prole, ao pai estava destinada a função de corte do cordão umbilical, do jogar os filhos para a vida. Surge a figura do mar, mesmo, o desconhecido oceano, metáfora da vida e de seus desafios.

Você, antes, realizava sua tarefa com relativa facilidade, tudo era tão definido! Como fazer o mesmo hoje, quando acumula muito das funções maternas? Como dar conta de tão importante missão se está profundamente envolvido com questões emocionais, afetivas e que também lhe exigem cuidados físicos e concretos em relação às crianças?
Esse pai nunca precisou de tanta ajuda, de tanto apoio...às vezes parece precisar de colo.

Guerreiros são pessoas,
São fortes, são frágeis,
Guerreiros são meninos, no fundo do peito
Precisam de um descanso, precisam de uma remanso,
Precisam de um sono
Que os torne refeitos
É triste ver meu homem, guerreiro, menino
Com a barra do seu tempo por sobre seus ombros
Eu vejo que ele berra,
Eu vejo que ele sangra,
A dor que tem no peito, pois ama e ama....
Gonzaguinha

Mas de colo, os homens sempre precisaram, eternos meninos, não importa a idade. Na realidade, pedem mais. Esse guerreiro necessita encontrar, além de caminhos profissionais, uma maneira de dividir com sua eleita companheira de percurso, a maneira de conduzir a educação de seus filhos, a forma de recuperar algo que sempre lhe pertenceu: o papel de soltar as amarras, apesar do olhar aflito da mãe, dos perigos do mundo...

Quando se pensa nos filhos de hoje, é inevitável a comparação com os filhos de ontem. Estabeleça o paralelo. Como era mesmo? Pegavam ônibus, descobriam a cidade com suas próprias pernas, realizavam suas lições de casa com mais independência, comiam de tudo. Ah, mas todos dirão: o mundo mudou, a violência está nas ruas, as crianças vivem uma outra realidade.É fato. Muito mudou. Mas você há de concordar, encontram-se sempre desculpas para o que aí se encontra. Essas crianças parecem estar, a cada dia, mais super protegidas, mais criadas numa redoma. Conhecem mais as luzes artificiais dos shoppings, menos a luz do sol, mais a realidade de um condomínio fechado, menos a vida que corre nas calçadas.

Difícil, não? Um verdadeiro nó. Mas nó é com você mesmo! É um marinheiro! Como lhes mostrar o que, de fato, é o mundo, para que possam crescer conscientes, críticas, realizando uma leitura verdadeira do que as circunda? Pois não é isso que o mercado de trabalho lhes vai exigir no futuro? Não é o que um futuro relacionamento lhes vai cobrar?

Percebe seu papel? Sente que, de uma forma ou de outra, há que se reforçar sempre, a máxima tão conhecida: Os filhos são do mundo... Reforçar teórica e praticamente.
Cabe, aqui, a reprodução de uma situação vivida, quando alguns pais conversavam entre si sobre os destinos de seus filhos. Um deles, profissional extremamente bem-sucedido, dizia aos amigos:
“Hoje não há mais lugar para profissionais que não tenham estudado muito e não o continuem fazendo...nossos filhos precisam, ao término da faculdade, continuar seu percurso...mestrado, doutorado...” até aqui, nada com o qual não se concorde... a questão é que o discurso terminava assim...”...não, não é como no nosso tempo...quando entrávamos para o mercado de trabalho mais cedo...hoje precisamos dar condições para que eles estudem, anteriormente, tudo o que puderem, para que se preparem o suficiente para enfrentar o que vem pela frente....”

Estudo separado da vida, da prática...como se o preparo residisse somente no ensino acadêmico, nas especializações, na aprendizagem de um ou vários idiomas, no uso aprimorado da informática. Estudar para, posteriormente, entrar no mercado. Estende-se a adolescência. Na tentativa de oferecer o melhor, tira-se do jovem a oportunidade única de conviver e aprender o que é o relacionamento profissional e suas implicações. Sabe-se que não há família ou escola que consiga ensinar o que está implícito no mundo do trabalho. Ele amadurece, torna forte, faz germinar o que se plantou desde cedo.

Nesse momento do século faz-se necessário que pai e mãe estejam juntos para refletir sobre essas questões desde cedo, pequenas questões do cotidiano que, gradativamente, façam com que essas crianças ganhem autonomia com responsabilidade: ir à padaria comprar os pães para o lanche, pegar seu primeiro ônibus; fazer o percurso, a pé, para a escola, se próxima; pequenos passos que antecedem e preparam o terreno para o que virá. Lenta e cuidadosamente. Problemas acontecerão? Sem dúvida. Dá algum trabalho, no início? Dá, não se engane. Perdem o dinheiro, gastam em balas, na melhor das hipóteses! Mas proporciona a seu filho alguns elementos fundamentais para o seu desenvolvimento: percepção, sintonia com o que ocorre a seu redor...responsabilidade, independência e, talvez, o mais importante, a idéia de que está crescendo com a confiança nele depositada.

Você, homem desse imenso oceano que é o mundo, viveu muito dessa realidade e sabe que ela foi semente de tudo. Resgate com sua companheira o seu caminho de criança e adolescente, ajude-a a perceber que se as ondas assustam, é também, através delas e do vento, que o barco singra as águas...nem sempre da forma ordenada e planejada pelo marinheiro, mas...será a vida tão certa assim? Ah...maravilhoso poeta português, venha fechar esse capítulo, venha....Navegar é preciso, viver não é preciso....









segunda-feira, agosto 07, 2006

sexta-feira, agosto 04, 2006

Família hoje

Por Norma Leite Aquilino

A família mudou. Com isso, vários reflexos se fazem sentir.
Afinal, família estruturada é possível, diante de tantas alterações?


Durante muito tempo a estrutura da família tradicional, composta de pai e mãe, foi uma realidade que, de certa forma, norteou os rumos de crianças e jovens.
Era um modelo definido, com homens e mulheres desempenhando papéis específicos e pré-determinados. Ao homem cabia a função de provedor. À mulher, os deveres da casa e a educação dos filhos. Essa era uma estrutura que servia aos padrões de uma determinada sociedade, numa determinada época. Era rígida, inflexível, sob alguns ângulos. Por outro lado, propiciava alguns eixos, algumas diretrizes aos pequenos e jovens.
Não, não se assuste. Não quer dizer que aquele era um modelo ideal. Absolutamente. Mas, no momento em que esse padrão foi substituído por tantos outros, é importante que se deixe claro o que de positivo existia e que permitia que os filhos crescessem com mais autonomia. Talvez, refletir sobre alguns aspectos sirva de auxílio a tantos pais e mães que buscam, nesse instante tão conturbado, alguns caminhos.

Novas composições, eixos eternos

Hoje há famílias compostas de pais e mães, somente de mães ou de pais e de casais do mesmo sexo. Enfim, o mundo mudou mesmo, não é verdade? Independentemente da composição ou ainda que o modelo seja o tradicional, vemos que esse casal já não mais desempenha as funções rigidamente estabelecidas como antigamente. Justamente porque tudo está tão alterado, os papéis exercidos estão indefinidos. A quem cabe o quê? Esse pai e essa mãe são ambos provedores, trocam fraldas, preparam mamadeiras.... Saem de casa cedo, voltam tarde... O tempo é curto diante de tudo o que se tem para fazer. Como ficam as crianças diante desse novo cenário? O que privilegiar para que a família, de qualquer natureza, seja bem estruturada e possa oferecer os eixos básicos à formação das crianças? Sim, porque família bem estruturada não significa necessariamente família com pai e mãe, mas que, de alguma forma, consiga manter definidos alguns papéis e valores fundamentais ao crescimento.

O acolher

Parece básico e elementar afirmar que uma das funções essenciais da família seja acolher os filhos. Mas é necessário que essa função seja revista, na medida em que a mulher, outrora tão dedicada ao lar e à observação do cotidiano, está imersa num ambiente de trabalho, por vezes extenuante e implacável.
Acolher significa, entre tantas coisas, ouvir as crianças e jovens, observar seu dia-a-dia, intervir nas ações rotineiras. Acolher quer dizer estar presente. Fisicamente? Controlando seus passos? Não, tal realidade, além de não ser benéfica, não atende aos novos tempos.
Essa função materna precisa ser revista com o olhar de um novo momento. Mas é fundamental para dar eixo e parâmetros aos filhos. Se o tempo é tão curto, é necessário que seja usado com sabedoria. Nesse sentido, privilegiar qualidade e não quantidade parece ser uma saída. Desempenhar essa tarefa não significa ser supermãe ou superpai. Inúmeras vezes justificamos nossa ausência com nosso trabalho, mas nos esquecemos ou não valorizamos pequenos instantes que poderiam fortalecer nossos elos: o jantar, um programa de televisão, um jogo, uma conversa descontraída ao levá-las à escola, à hora de dormir... Momentos informais, mas que dêem subsídios para ouvir o que pensam. Esses são instantes, também, em que você poderá, claramente, lhes falar não somente de suas certezas, mas de suas aflições e ansiedades.
Esse hábito, cultivado desde cedo, dá segurança aos filhos. Mostra-lhes que, se você não tem respostas para tudo, tem, ao menos, o desejo de acertar. E que conta com eles. Isso faz toda a diferença do mundo porque a relação se torna mais verdadeira, construída conjuntamente.

O corte do cordão umbilical

Bem, mas se acolher é importante, há a necessidade, também, de que haja, por parte de quem educa, o movimento de mostrar aos filhos que podem caminhar sozinhos. É um caminho longo, com etapas. Mas essencial ao desenvolvimento infantil. Essa função, no passado, restrita ao homem, proporcionava independência, autonomia a crianças e jovens. Àquele pai cabia “cortar”, diante dos olhares aflitos da mãe, as amarras. Era dele a palavra firme, “dura”. Muitas vezes, um simples olhar dizia tudo.
Importante que se reitere que nunca os jovens tiveram seu período de adolescência tão prolongado como hoje. Jamais demoraram tanto a assumir suas obrigações. Essa é uma geração com muitos direitos e poucos deveres. Curiosamente tal fato ocorre num momento histórico em que sabemos que o mundo profissional exige, cada vez mais cedo, responsabilidades dos jovens.
Pois bem. O processo gradativo que proporciona uma liberdade responsável começa nos pequenos, com ações concretas no dia-a-dia: na organização do próprio quarto, nas tarefas gerais da casa. Faz parte, também, de forma gradativa, fazê-los responsabilizar-se por si próprios delegando tarefas que os tirem do âmbito familiar: a ida, a pé, á escola de inglês, os pequenos trajetos de ônibus, a compra de pães na padaria...
Para isso, estabelecer poucas, mas boas regras de convivência e de atuação no mundo externo é essencial. Estabelecer e fazer cumprir.

Quando se é pai e mãe ao mesmo tempo

Em alguns casos, há a necessidade de que somente uma pessoa exerça as duas funções. Quando isso ocorre, o sentimento de sobrecarga e frustração pode surgir. Mas não se assuste. O mais importante não é acertar sempre. A máxima deve ser: fazer o melhor que se pode sob determinadas circunstâncias. Baixe suas expectativas.O melhor está distante do ideal? Sem dúvida. Mas se você desempenha sozinha o papel de criar seus filhos, saiba que, muitas vezes, sob um teto aparentemente estável, com casais estruturados de forma tradicional, tudo pode estar completamente fora dos eixos. Saiba, também, que pais que lutam sozinhos contam com um olhar diferenciado por parte dos filhos. Crianças são seres sensíveis, percebem sua correria, suas angústias diante das limitações. Aprendem muito com isso. Normalmente tornam-se mais autônomos porque vêem, na prática, a sua impossibilidade para assumir certas tarefas práticas. Resumindo: buscam saídas. E isso pode ser muito bom se você souber delegar, incentivar e não ficar presa à idéia de que dar conta de tudo é sua função.

Família perfeita?


Essas duas grandes diretrizes – o acolher e o corte do cordão umbilical – estão centradas na figura do pai e da mãe e são pilares da estrutura familiar. No caso da presença de ambos, a troca permanente entre o casal para a discussão dessas funções é primordial. É comum que, imbuídos do desejo de acertar, um dos dois eixos fique descoberto. Pode haver um excesso de proteção ou uma ausência de parâmetros. O segredo está no equilíbrio das funções. E essa medida só pode ser encontrada, entre o casal, se houver diálogo.
Essas duas diretrizes podem existir em outros modelos familiares. O fundamental é que os papéis existam. Na figura da mãe, de uma amiga, do pai, de um padrinho de uma tia ou mesmo de um avô. Quando esses dois pilares estão definidos como prioritários, a questão parece se resumir a quem assume o quê.
Lembre-se: mais importante do que as coisas funcionarem de forma perfeita é saber lidar com os conflitos e necessidades diárias. Nada mais enganoso do que a idéia de que família perfeita é família sem discussões ou divergências. Se há uma lição a ser ensinada aos filhos é a de que viver com o outro é aprender a gerenciar conflitos. É com eles que se cresce. È somente por meio deles que se enxergam saídas. Por isso mesmo, tenha em mente: família bem estruturada é aquela que busca, entre erros e acertos, o rumo certo. O importante é buscar. Sem a idéia pré-concebida de que se deva acertar sempre.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Ser ou desaparecer?


O importante é não estar aqui ou ali, mas SER.
E ser é uma ciência feita
de pequenas e grandes observações do cotidiano
dentro e fora da pessoa.
Quando não executamos essas observações,
não chegamos a ser;
apenas estamos desaparecendo.
Carlos Drummond de Andrade
Observar para ser. Coisinha difícil, não?

quarta-feira, agosto 02, 2006

De professores, cozinheiros e seus temperos

Por Norma Leite Aquilino

Inclinações por determinadas áreas, todos têm.
Mas qual é a força de um professor para realçar essa tendência
ou mesmo fazer com os alunos descubram
os mistérios e a beleza de determinadas disciplinas?



Não é novidade nenhuma a história daquele aluno que sempre teve horror à matemática ou à escrita e, quando adulto, sempre se referiu às suas dificuldades com verdadeira angústia. A rejeição à área, na grande maioria dos casos, aponta para a figura do professor. O adulto, ao explicar sua dificuldade, começa por descrever aspectos da disciplina, mas, invariavelmente, toca em outros: nas aulas meramente expositivas, nos exercícios sem significado, enfim, em estratégias utilizadas que não conseguiram, de alguma forma, mobilizar o estudante.
Falar somente das estratégias seria minimizar o assunto. Na realidade, a didática utilizada pelos professores tem origem na sua concepção do que seja aprendizagem. E isso faz toda a diferença na sua postura em relação ao aluno, ao planejar aulas, propor um trabalho ou mesmo ao realizar uma avaliação. Essa forma de ação acaba por promover maior ou menor aceitação de algumas disciplinas. Em alguns casos, há verdadeira aversão, o que pode comprometer profundamente seu aprendizado e deixar lacunas sérias.

Ensinamentos de grandes mestres

Quando nos recordamos daqueles professores que marcaram nossa vida escolar, freqüentemente nos deparamos com figuras que não se detinham somente em sua disciplina. Seu pensamento era abrangente. Alunos respeitam professores que tenham o domínio da matéria, mas esse é somente um dos itens a serem considerados. Os grandes mestres sempre souberam que a especificidade só tem sentido quando o educador tem uma visão mais ampla do mundo e faz com que seus alunos percebam o maior.

Quando isso ocorre, aqueles aspectos técnicos são, muitas vezes, minimizados para que se consiga chegar à criança ou adolescente. Porque esse é o nó a ser desatado. Lidar com alunos que gostem do conteúdo, que tenham facilidades é simples. O grande desafio está em fazer com que os demais percebam caminhos e se descubram na área, procurando dar o melhor de si. Isso não se faz com exercícios enfadonhos, desprovidos de significado. Há que se ter paixão, gosto pelo ofício. Há que se ter paciência com os que ainda não enxergaram a beleza da disciplina. Mas, mais do que tudo, há que se ter a humildade de não usar o conhecimento e o poder da avaliação para destruir a auto-estima dos alunos.

Professor perfeito não existe

O educador que faz a diferença é um eterno pesquisador de conteúdos, de formas e de estratégias. É ousado, não tem medo do erro, tenta diferentes saídas para os problemas do cotidiano. Olha seus alunos nos olhos e conhece cada um para melhor poder atuar. Nesse olhar questiona sua dinâmica de trabalho, refaz o percurso, corrige as rotas. Sabe que é falível e que não escolheu uma profissão fácil. Por isso mesmo, não se escuda em eternas desculpas para alguns fracassos que possam acontecer. Ser educador, num país com tantas distorções e lacunas, é contar com problemas. Mas também é acreditar que existam saídas e que sua atuação aconteça a longo prazo. Significa perceber que deixa marcas e que estas podem alterar o rumo das coisas para melhor ou para pior.

Programa X sensibilidade

Bem, mas algo merece uma atenção especial quando pensamos no professor que atua de forma diferenciada: a sensibilidade para perceber que, se possui um conteúdo a cumprir, tem também, diante de si, uma classe heterogênea que, necessariamente, pode não atender a algo previamente estabelecido. A percepção, o jogo de cintura para lidar com o que a moçada traz altera rumos e tem o poder de transformar a aula em algo mais verdadeiro, dinâmico. E, convenhamos, esses jovens nunca estiveram tão repletos de informações! Jamais precisaram tanto de educadores que soubessem ouvi-los, a fim de canalizar esse conhecimento bombardeado, veiculado de maneira fugaz, mas intensa.

Equilibrar a programação acadêmica com o currículo oculto e, muitas vezes, utilizar esse currículo a favor da disciplina, dá sentido à aprendizagem. E os alunos parecem pedir isso. Querem saber por que estudam determinados conceitos, qual sua aplicação, enfim, o que farão na vida prática com alguns conteúdos. Nesse sentido, é fundamental que teoria e prática caminhem de mãos dadas.

O prazer, o bom humor e a energia

Cada professor tem características diferenciadas no exercício de seu ofício. Mas se há algo que contamina os alunos é ver na figura do mestre o prazer e o gosto pelo que faz - ainda que o percurso seja árduo, duro, permeado por dificuldades. Quando o prazer deixa de existir, a batalha está perdida. Não há teoria ou técnica que dê conta. E para que o gosto seja maior do que o desgaste do cotidiano, nada como o humor, a leveza para lidar com alguns assuntos pesados e os momentos que propiciam o “recarregar das baterias”. Sim, professor precisa de energia e essa não vem só da sala de aula. Vem do alimento com seus colegas de trabalho, das leituras e cursos de aprimoramento realizados, das atividades culturais a que tem acesso. Esses são elementos que dão ao profissional a visão mais abrangente e a flexibilidade tão necessária para a batalha diária! Professor sozinho e isolado realiza sua tarefa de forma incompleta e, mais cedo ou mais tarde, os reflexos se fazem sentir em si próprio e na turma.

Feitiço necessário

Finalmente é preciso ressaltar que, por mais que crianças e adolescentes tenham tendências por alguma área acadêmica, o bom professor faz milagres quando se dispõe, de coração aberto, a encontrar um caminho para os mais resistentes. Na realidade, eles têm a necessidade de se sentir capazes, de acreditar em seu potencial. O educador precisa saber mostrar-lhes primeiramente não “o quanto falta”, mas aquilo que já conseguiram. Ainda que sejam poucos, os pequenos progressos precisam ser valorizados. Alguns conteúdos precisarão ser cortados. Algumas técnicas e procedimentos, alterados. Não importa. Vale tudo quando se quer “enfeitiçar” alunos...
Enfeitiçar alunos pelo conhecimento não é tarefa para iluminados. Não. É para quem tem a humildade de reconhecer que há algo maior do que o programa, do que as notas do boletim, do que aquilo que os livros didáticos trazem: o gosto, o prazer pelo que estão aprendendo, ainda que aquela não seja sua área de maior facilidade.

Há receitas? Não, não há receitas prontas e acabadas, mesmo porque cada aluno é um e cada classe tem uma dinâmica. Mas se não há receitas, precisa haver, no mínimo, algumas diretrizes e um bom cozinheiro - que saiba selecionar e misturar ingredientes, que experimente os temperos, que pesquise o tempo certo do forno... Mais do que isso: um cozinheiro que ouse e não tenha receios - que se permita errar e, com o erro, busque a dose mais adequada do sal, da pimenta, da água e do azeite. Que suje suas mãos na farinha e nos ovos...

O conhecimento pode ser um banquete com direito a muitos aromas, sabores, entradas, aperitivos e pratos principais. Com a diferença de que, para prepará-lo, não basta o profissional especialista, mas os aprendizes, com suas colheres que acrescentam, seus garfos que espetam, suas facas afiadas a cortar, mas sempre com suas terrinas prontas a serem preenchidas. Desde que se saiba abrir o apetite, é claro!

terça-feira, agosto 01, 2006

Da importância da travessia


... o real não está na saída nem na chegada:
ele se dispõe prá gente é no meio da travessia.
Guimarães Rosa
E a nossa travessia pode ser longa ou, por vezes, curta demais...