sexta-feira, outubro 29, 2010
quinta-feira, outubro 21, 2010
Eu prometo
Por Marli Gonçalves
A eleição presidencial está na boca do povo. Nem sei como finalmente aquele torpor do primeiro turno passou. Vemos e ouvimos as pessoas conversando nas ruas, nas mesas dos bares, na internet, trocando ideias, brigando, querendo saber que bicho vai dar. Mas ainda não ouvi nenhum dos candidatos dizendo que registrou no cartório as suas promessas.
Assim, por favor, candidatos, peguem a caneta e assinem aqui, uma espécie de plataforma básica, como um documento e compromisso em nome da população brasileira. Para acalmar todos os corações.
Eu prometo, antes de mais nada, voltar minha atenção não só para mim, ou meu grupo político, mas a toda a população e suas necessidades básicas há muito relegadas. As questões principais voltam a ser saneamento básico, educação, alimentação, saúde, habitação, transportes, lazer e qualidade de vida.
Eu prometo buscar o desenvolvimento por meio de ações que garantam condições dignas de sobrevivência aos homens, mulheres e crianças deste país. Não quero mais vê-los remexendo latas de lixo nas ruas, nem jogados como sacos descartáveis nas calçadas. Não quero ter medo de me aproximar de crianças, julgando que elas poderão estar armadas ou com caco de telha ou com caco de vidro. Ou loucas paranoicas cheirando colas dos saltos e solas que as chutam. Não quero vê-las fechadas em caixões de madeira de tapumes, nem em valas, mortas por inanição e subdesenvolvimento. Não quero que elas mal cheguem de um lado e desencarnem de outro, numa breve passagem pelo tempo. Não quero vê-las tristes e chorando de fome e barrigas d’água cheia de vermes - nem quebradas pelo crack nem com as mãos cortadas de trabalho, que talvez pensem ser um passo para o brinquedo que nunca alcançam em seus trapiches. Não quero ver seus corpos mirrados sendo violentados.
Eu prometo cuidar de todos os tipos de cabeça do país. As cabeças chatas do Nordeste. Dos cabelos louros do Sul. As de todos os tipos do Sudeste. E a dos caboclos do Norte, com pena ou sem pena, caciques de suas aldeias ainda distantes. Das cabeças pensantes. Das cabeças modernas, coloridas. Das cabeças montadas em corpos de homens ou mulheres que querem ser ou homens ou mulheres, sem ter a parte de baixo para mostrar. Das cabeças brancas, grisalhas, de rostos enrugados e corpos alquebrados pela labuta, pela vida vivida nos limites. Eu prometo cuidar dos velhos quando mais eles precisam.
Eu prometo cuidar dos recursos naturais do país enquanto ainda é tempo, dispensando os discursos que, vazios de preservacionismo e repletos de interesses escusos, apenas impedem que o desenvolvimento e o progresso sejam de todos. Ao mesmo tempo, lutarei para que nossas belezas tropicais sejam exemplo para o mundo, continuem a oxigenar o ar e proteger as camadas da Terra das inclemências da natureza, que nos golpeia em lances-surpresa que buscarei prever melhor. E que nossos oceanos e rios possam ser navegados como dantes. E que nossas estradas façam o vaivém, sem tantas mortes.
Eu prometo que saberei perceber o que é qualidade de vida em cada canto dessa pátria, tão multifacetada, tão eclética, urbana e rural. Que saberei auxiliar na reorganização das grandes cidades, que abrigam e abrigaram os refugiados de longe, no êxodo de quem busca um local para morar, viver e morrer.
Eu prometo que me guiarei pelo bom senso e pelo sentido de liberdade mais amplo, preservando a enorme cultura e capacidade criativa do povo, acima de religiões, cores, raças, credos, cruzes, terreiros, templos, mesquitas e catedrais.
Eu prometo deixar nascer quem puder e quiser nascer, de quem puder parir e educar. E evitar que morram os que não estão na hora, dando-lhes a garantia necessária e medicamentos, os meios para que seus dias não sejam tormentos, e que encontrem em si próprios a razão de tudo.
Eu prometo buscar compreender tudo o que não sou eu, ou igual a mim, e respeitar ao próximo que me respeite e que siga as leis da nossa Constituição que poderei rever, sim, mas enxugando-a e tornando-a finalmente democrática e exequível. Não mudarei as regras e as placas do caminho.
Eu prometo respeitar os Poderes da República, como se fosse monarca com a sensatez dos contos de fadas, com destemor, amor, solene para quem o merecer. Insolente contra qualquer um que nos ultrajar aqui ou acolá de nosso continente. Qualquer tentativa de desestabilizar a alegria, a liberdade, os direitos e deveres, a paz e harmonia, será rechaçada firmemente. Porque assim deve ser. Tentarei estar sempre alinhado ao lado dos líderes, contra os ditadores, ainda que estes se mostrem camuflados. Escutarei os clamores das ruas.
Eu prometo atenção e sempre que possível prestigiar e apoiar o trabalho dos cientistas e intelectuais, mantendo-os entre nós. Assim como prometo não considerar o esporte, nem em Copa, nem em Olimpíadas, como arma populista, mas como o avanço de nossos guerreiros e marcas, orgulhos de nossas conquistas que serão muitas, em todos os campos da ciência, do futebol, nas raias das piscinas, e nas passarelas que desfilarão os tecidos das roupas do futuro, vindos da agricultura, que também alimentará grão a grão todos os seres vivos, que prometo respeitar, incluindo os cães e gatos, toda a flora e toda a fauna, todos os troncos que puderem ser usados de uma célula e os transplantes que garantirão a continuidade da vida.
Enfim, eu prometo proteger os seus como se fossem meus filhos, membros de minha família, dando-lhes um chão firme para pisar, ensinando a pescar e a entender que os efeitos de ação e reação serão sempre compatíveis. Que somos nós que fazemos a legitimidade das leis, da ordem social.
Eu prometo fazer do Brasil a terra sempre prometida e nunca entregue, para que os mais modernos satélites do mundo possam acompanhar seu crescimento sustentado, e que esse seja um exemplo. Eu prometo meditar bem antes de qualquer decisão.
Eu não só prometo, como farei cumprir o exposto acima porque é o que todos nós queremos.
Atesto e dou a fé, a minha fé e a de cada um que poderá participar.
Brasil ___________________________________________, 2010
Marli Gonçalves é jornalista.
domingo, outubro 17, 2010
Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
Por Thiago de Mello
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
sexta-feira, outubro 15, 2010
Refletindo sobre o ato de aprender
Por Paulo Freire
Aprender não é acumular certezas
Nem estar fechado em respostas
Aprender é incorporar a dúvida
E estar aberto a múltiplos encontros
Aprender não é dar por consumada uma busca
Aprender não é ter aprendido
Aprender não é nunca um verbo do passado
Aprender não é um ato findo
Aprender é um exercício constante de renovação
Aprender é sentir-se humildemente sabedor de seus limites,
mas com a coragem de não recuar
diante dos desafios
diante dos desafios
Aprender é debruçar-se com curiosidade sobre a realidade
É reinventá-la com soltura dentro de si
Aprender é conceder lugar a tudo e a todos
E recriar o próprio espaço
Aprender é reconhecer em si e nos outros o direito de ser dentro de inevitáveis repetições
porque aprender é caminhar com seus pés um caminho já traçado
É descobrir de repente uma pequena flor inesperada
É aprender também novos rumos onde parecia morrer a esperança
Aprender é construir e reconstruir pacientemente
Uma obra que não será definitiva porque o humano é transitório
Aprender não é conquistar nem apoderar-se mas peregrinar
Aprender é estar sempre caminhando, não é reter mas comungar.
Tem que ser um ato de amor para não
ser um ato vazio.
ser um ato vazio.
sexta-feira, outubro 08, 2010
O Semeador de estrelas
Meu querido amigo Renato enviou...e eu não resisti!
O Semeador de Estrelas é uma estátua localizada em Kaunas, Lituânia.
Durante o dia passa despercebida.
Mas, quando a noite chega, a estátua justifica seu nome...
Que possamos ver sempre além daquilo
que está diante de nossos olhos, hoje e sempre.
Obrigada, caro amigo Renato!
domingo, outubro 03, 2010
sábado, outubro 02, 2010
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