quarta-feira, janeiro 17, 2007

O retorno às aulas ou...o teu lugar


Por Norma Leite Aquilino

Vem tomar o teu lugar
Na perdida embarcação
Importante é viajar
Por estranha região
E se não tiver destino
Bem melhor então será
Sonho de todo menino
É poder se aventurar
Libertar o coração
Cultivar a emoção
Pra saber se vai chegar
Onde a dor não pode alcançar
Jorge Simas e Délcio Carvalho

O teu lugar...Retorno às aulas, nesse início de ano... Dizem que grandes compositores, os que aprenderam na escola da vida, têm muito a nos ensinar. A nós que sempre pensamos ter o domínio do saber, sempre imbuídos do desejo de acertar, que planejamos tudo com cuidado meticuloso, com passos a serem seguidos, roteiros de estudo, extensos programas e planejamentos.

O professor, que procura sempre novas fontes de alimento, através de reciclagens permanentes, de leituras específicas, realiza, sem dúvida, uma tarefa essencial para seu crescimento. Não há como fugir do novo, dos estudos recentes. Inerente à qualquer profissão, a busca do conhecimento parece ser prioritária e mais urgente quando se fala em educador. Tal necessidade ganha mais força ainda quando pensamos no profissional de um país como o Brasil, de dimensões continentais, com tantos desafios e desmandos, desigualdades.

O teu lugar... A letra do poeta remete à perdida embarcação...à viagem, à aventura, ao sonho. Essas são palavras que parecem um pouco perdidas quando imaginamos o educador tomado por cursos e palestras de reciclagem, detentor do conteúdo acadêmico, por vezes árido e técnico. De que maneira transformar esse saber teórico adquirido, colocá-lo em prática? Se a teoria é imprescindível, como fazer dela nossa aliada em lugar de mera informação?

O professor parece precisar de mais nesse percurso. O conhecimento adquirido parece não suprir alguns anseios. Sua bela e árdua tarefa, a de educar, pede, por muitas vezes, a aventura, a busca do desconhecido.
A maravilhosa viagem do educador por estranhas regiões parece ser aquela em que o medo do erro não existe, em que se aprende pela prática, por meio do ir e vir permanentes, da ousadia do experimento. Aquela saudável ousadia que lida com ansiedades e angústias ao lado das alegrias, conquistas e prazer. Impossível realizar tal tarefa sem emoção.

O teu lugar... Libertar o coração é soltar as amarras que nos prendem tão fortemente ao racional. Racional representado pelas aulas metodicamente planejadas, por carteiras enfileiradas, por aulas puramente discursivas, por programas a serem cumpridos tendo em vista o vestibular, por notas e boletins matematicamente corretos.

Hum... uma desordem? Uma bagunça? E por que não? Algumas desordens fazem parte quando se quer construir o novo. O que pensamos nós que ocorre hoje em nossas salas de aula que não seja desordem? Alunos inquietos, dispersivos... por vezes violentos, desrespeitosos em relação aos amigos e professores. O que aí está parece refletir o caos instaurado numa sociedade onde a ausência de limites e a falta de afeto pelo outro predominam.
A escola parece reproduzir e acentuar essa violência. De forma consciente? Não. Os professores parecem precisar de ajuda. Percebem o que ocorre à sua volta, mas não parecem vislumbrar caminhos mais rápidos e eficazes para reverter o quadro.

O teu lugar... não é teu somente... Perceber a emoção e procurar lidar consigo mesmo parece ser o primeiro passo. Quando o educador reconhece seus sentimentos passa a enxergar de forma verdadeira o aluno. Lidar com nossa emoção é reconhecer limites, mas é também ultrapassar fronteiras. é saber que aquilo que nos incomoda tanto no outro pode ser reflexo de nós mesmos ou sinalizar o que não caminha bem em nossa prática de sala de aula. O aluno denuncia, a todo instante, o que não vai bem. Ele o faz de diferente formas, no verbal, com gestos, no trabalho não apresentado, nos gibis que correm soltos pela aula, nas conversas paralelas. Mas nosso foco parece estar permanentemente nas locuções adverbiais, nos algoritmos, nas retas paralelas, no clima e na vegetação.

Até quando os programas serão uma camisa de força? Por quanto tempo insistiremos em não reconhecer que dar conta da tarefa de educar é diferente de cumprir conteúdos? Quanto tempo mais levaremos para perceber que a avaliação é mais, muito mais do que notas expressas em boletins? E que crianças e jovens não são seres a serem medidos e classificados em fracos, médios, bons e ótimos? Por quanto tempo reiteraremos a violência que se vê nas ruas, nos meios de comunicação, nos círculos familiares?

Parecemos não nos dar conta de que nossa autoridade é e pode ser exercida de maneiras mais produtivas. Ignoramos que a verdadeira disciplina e admiração ao mestre nascem do respeito ao seu saber e à sua visão maior do mundo, de sua sabedoria ao reconhecer que aquilo que nossos jovens levarão consigo, ao sair dos bancos escolares, precisa ser a lembrança de um mestre que neles descobriu virtudes, redirecionou o que estava fora do eixo e, mais do que tudo, lhes deu esperança...

O nosso lugar... Pensar em transformação significa não só olhar a nós mesmos, mas a todos que cercam nosso trabalho: alunos, colegas professores, coordenadores, direção, famílias... Olhar como pedem ser olhados, com seus limites, falhas, competências, acertos e erros. Quando direcionamos nosso olhar para a realidade e a assumimos tal qual é, podemos também redirecionar nossa ação para pequenos, mas significativos atos que indiquem que todos fazem parte de um grupo. Um grupo que tem em comum objetivos maiores e que, para isso, precisa pensar grande. Pensar grande implica em aparar arestas, descartar o insignificante, selecionar o fundamental. Refletir de forma maior quer dizer buscar, dentro de nós e com a ajuda de parceiros, conquistas, fracassos, vitórias, desacertos, enfim, tudo aquilo que nos ilumine para encontrar caminhos. Isso se faz com humildade e determinação. Com esforço, persistência e, principalmente, com amor e solidariedade.

Parecem ser essas algumas das virtudes que o mundo diz que precisam ser ensinadas a crianças e jovens. Então por que não começar por nós mesmos? Talvez seja o que nossos alunos nos queiram dizer a todo instante com sua impetuosidade, seus momentos agressivos. Sábios jovens que parecem estar no mundo para nos ensinar, a cada dia, nosso ofício.
Quando nos desvencilhamos de determinadas armadilhas, criadas por nós mesmos, conseguimos ter sonhos e, por meio deles, abrir mão de receitas pré-determinadas e vislumbrar caminhos..E, o mais importante, conseguimos suavizar o trabalho, resgatando o sentimento mágico do gosto e da paixão.

Nesse início do ano, professor, comece por desatar os nós... pequenos nós que aprisionam... que nascem dentro da sala de aula, espaço onde a fantasia, a criação e o prazer precisam estar presentes. Comece no pequeno, o importante é dar início...
E... chame seus amigos, seus colegas de profissão nessa caminhada. Mostre aos alunos que, se a transformação começa no individual, ela se reforça no grupo, de forma saudável e madura.

Vem deixar distante a sensação de ser sozinho
Que teu peito amante sente falta de carinho
Vem olhar as cores do horizonte refletindo
Todo colorido da aventura que virá
Vem perder o medo, que te prende e te reprime
Vem saber que é crime não querer se libertar
Vem amar por amar
Cantar toda a canção
Vem tomar teu lugar na velha embarcação
Jorge Simas – Délcio Carvalho

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Mensagem a Garcia


No ambiente corporativo , "Mensagem a Garcia" é uma expressão corrente, para designar uma tarefa muito difícil e espinhosa, mas que é absolutamente necessária, e precisa ser realizada de qualquer maneira, sob risco de grandes perdas para a empresa. Mas poucas pessoas efetivamente conhecem a história que originou a expressão. Resgatamos a história, contada pelo próprio criador da expressão, o jornalista norte-americano Helbert Habbard, em 1899. Leia o que o autor escreveu, numa verdadeira aula de como avaliar personalidades profissionais. O texto, escrito no século XIX, tem uma atualidade impressionante. Clique no link!

Nesse 2007 que se inicia, é saudável que nos alimentemos de idéias que nos levem a posturas autônomas, seja profissionalmente, seja em nossa vida pessoal.